O governo federal detalhou recentemente os cortes de R$ 25,9 bilhões previstos no Orçamento de 2025, com um foco significativo nas despesas sociais. Entre as medidas mais polêmicas, destacam-se os cortes de R$ 6,4 bilhões no Benefício de Prestação Continuada (BPC), R$ 10,5 bilhões em benefícios do INSS, incluindo o auxílio-doença, e R$ 2,3 bilhões no Bolsa Família. Esses cortes, quando somados, totalizam R$ 19,2 bilhões em pagamentos que o governo classifica como indevidos.
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A magnitude dos gastos sociais e a justificativa dos cortes
Em 2023, cerca de 5,9% do orçamento do governo federal, ou R$ 261,6 bilhões, foi destinado a programas sociais como o Bolsa Família e o BPC. Quando ampliamos a definição de gastos sociais para incluir a Previdência Social, esse percentual sobe para 16,7% do PIB, ou quase R$ 800 bilhões. Esses números refletem o tamanho do desafio que o governo enfrenta ao tentar equilibrar as contas públicas.
Os cortes anunciados fazem parte de uma estratégia para ajustar as contas e alcançar as metas fiscais. No entanto, a decisão de focar em programas sociais suscita debates sobre os impactos que essas reduções podem ter sobre a população mais vulnerável.
Fraudes e irregularidades: A razão por trás dos cortes
O governo argumenta que os cortes são justificados pela necessidade de combater fraudes e irregularidades nos programas sociais. De fato, há evidências de que recursos destinados a esses programas têm sido alvo de esquemas fraudulentos.
Uma auditoria recente conduzida pelo Ministério da Previdência Social identificou que 45% dos auxílios-doença auditados estavam sendo pagos de forma indevida, envolvendo cerca de 45 mil segurados do INSS. Entre as irregularidades mais comuns estão beneficiários que retornam ao trabalho sem comunicar a Previdência ou que omitem o fato de estarem empregados.
O pente-fino no BPC e as dificuldades de implementação
O Benefício de Prestação Continuada (BPC), que garante um salário mínimo para idosos e pessoas com deficiência em situação de vulnerabilidade, também está sob escrutínio. O governo iniciou um pente-fino para verificar a regularidade dos beneficiários, exigindo a atualização cadastral no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico). Quem não atualizar suas informações corre o risco de ter o benefício suspenso.
Apesar das expectativas iniciais de que a auditoria no BPC resultaria em uma economia de R$ 6 bilhões, o próprio governo reconhece que será difícil atingir esse valor. Isso ocorre porque a suspensão de benefícios irregulares tem sido compensada pela entrada de novos beneficiários que se enquadram nos critérios do programa.
A realidade dos cortes: Impacto fiscal e social
Embora o governo defenda que os cortes são necessários para manter o equilíbrio fiscal, há uma preocupação crescente de que eles possam ter efeitos adversos sobre a população mais vulnerável. A eficácia dessas medidas em termos de economia fiscal também é questionável, dado que o impacto financeiro das fraudes identificadas até agora parece ser menor do que o esperado.
Além disso, o fato de que fraudes e irregularidades ainda persistem, mesmo após anos de auditorias e esforços de fiscalização, levanta dúvidas sobre a capacidade do governo de gerir esses programas de forma eficaz.
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A necessidade de um controle mais eficaz
A questão das fraudes em programas sociais como o Bolsa Família e o BPC é um problema antigo que demanda soluções mais robustas e eficazes. Em 2005, por exemplo, o Ministério Público Federal descobriu que mais de 1.100 servidores públicos em Teresina, no Piauí, estavam recebendo indevidamente o Bolsa Família.
Esses casos exemplificam a necessidade de um controle mais rigoroso e de uma gestão mais eficiente dos recursos públicos. O combate a fraudes não deve ser visto apenas como uma medida para alcançar metas fiscais, mas como uma obrigação constante de qualquer governo que preze pela integridade do sistema de proteção social.
Cortes nos benefícios são suficientes para garantir a sustentabilidade fiscal?
Os cortes anunciados pelo governo no Orçamento de 2025 refletem uma tentativa de ajustar as contas públicas, mas levantam questões sobre o impacto social dessas medidas. Embora seja essencial combater fraudes e irregularidades, é igualmente importante garantir que as populações mais vulneráveis não sejam prejudicadas no processo.
A longo prazo, a solução para a sustentabilidade fiscal dos programas sociais deve passar por uma gestão mais eficiente e transparente, que não só evite fraudes, mas também assegure que os recursos cheguem a quem realmente precisa.
Imagem: Isaac Fontana/shutterstock