Nas últimas análises do mercado de trabalho no Brasil, um fenômeno curioso tem chamado a atenção: o número de pedidos de seguro-desemprego continua subindo, apesar de a economia estar dando sinais de recuperação. Mesmo com o aumento de vagas e uma leve melhora na taxa de desemprego, a quantidade de trabalhadores que solicita o benefício não para de crescer.
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Entendendo o seguro-desemprego
O seguro-desemprego é um dos direitos mais importantes do trabalhador brasileiro, previsto na Lei 7.998/90. Ele garante um apoio financeiro temporário àqueles que foram demitidos sem justa causa ou por dispensa indireta. O objetivo é assegurar uma renda enquanto o trabalhador busca uma nova oportunidade de emprego.
O valor pago ao beneficiário varia conforme a média dos salários recebidos nos últimos meses, e a quantidade de parcelas depende do tempo de serviço e do número de vezes que o trabalhador já solicitou o benefício. Esse direito é vital para muitas famílias que dependem do seguro-desemprego para se manter enquanto procuram uma nova ocupação.
Por que os pedidos de seguro-desemprego estão subindo?
Entre julho de 2023 e julho de 2024, o número de solicitações de seguro-desemprego passou de 6,98 milhões para 7,35 milhões, de acordo com levantamentos recentes. Esse aumento expressivo de 5,3% em apenas um ano parece destoar do cenário de melhora no mercado de trabalho brasileiro, mas há várias razões que explicam esse fenômeno.
- Demissões em Alta: Embora o número de contratações tenha subido, o volume de demissões também aumentou, especialmente em setores de alta rotatividade, como comércio e serviços. Com mais trabalhadores sendo desligados, o número de pessoas aptas a pedir o seguro também cresce.
- Rotatividade no Mercado: O mercado de trabalho brasileiro é conhecido pela alta rotatividade de empregados, com muitos contratos temporários e demissões frequentes. Isso faz com que o seguro-desemprego continue sendo uma realidade para muitos trabalhadores, mesmo que a economia mostre sinais de melhora.
- Setores de Sazonalidade: Áreas como o turismo, varejo e construção civil têm uma forte sazonalidade, o que significa que há mais contratações em determinadas épocas do ano, seguidas de demissões no fim desses ciclos. Isso também contribui para o aumento nos pedidos de seguro-desemprego.
Perfil dos trabalhadores que solicitaram o benefício
Em julho de 2024, o total de beneficiários do seguro-desemprego chegou a 6,32 milhões de pessoas. Esse número inclui trabalhadores de diversas áreas, mas, como mencionado anteriormente, setores com maior rotatividade e instabilidade empregatícia são os que mais contribuem para esse aumento. Entre esses setores, destacam-se o comércio, serviços e construção civil.
Além disso, dados mostram que 71,58% dos trabalhadores que foram demitidos sem justa causa entre julho de 2023 e julho de 2024 requisitaram o benefício. Esse índice, embora abaixo da média histórica, é significativo e revela como o mercado de trabalho ainda está se ajustando após os impactos da pandemia.
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Como solicitar o seguro-desemprego?
Após ser dispensado sem justa causa, o trabalhador tem um prazo de 7 a 120 dias para solicitar o seguro-desemprego. O pedido pode ser feito tanto presencialmente, nas agências do Ministério do Trabalho, quanto pela internet, no portal do Governo Federal (gov.br) ou pelo aplicativo da Carteira de Trabalho Digital.
Para realizar o pedido, o trabalhador precisa ter em mãos os seguintes documentos:
- Documento oficial de identificação com foto (RG ou CNH);
- CPF;
- Número do PIS (Programa de Integração Social);
- Formulário de Requerimento do Seguro-Desemprego, fornecido pela empresa no ato da demissão.
Após a análise dos documentos, o trabalhador, se aprovado, passa a receber entre 3 e 5 parcelas, dependendo do tempo que esteve empregado e do número de vezes que já utilizou o benefício.
O futuro do seguro-desemprego no Brasil
Embora o aumento nas solicitações de seguro-desemprego seja motivo de preocupação, especialistas avaliam que o mercado de trabalho deve continuar a se ajustar nos próximos meses. A expectativa é que, com a estabilização do emprego e a melhora gradual em setores ainda afetados pela pandemia, o número de pedidos comece a cair.
No entanto, para que isso ocorra, é fundamental que haja investimentos contínuos em qualificação profissional. A rotatividade de empregos, principalmente em setores de baixa especialização, contribui diretamente para a alta no número de demissões e, consequentemente, no número de pedidos de seguro-desemprego.
Considerações finais
O aumento nos pedidos de seguro-desemprego reflete as nuances do mercado de trabalho brasileiro, que, mesmo em recuperação, ainda sofre com a alta rotatividade e a sazonalidade em setores chave da economia. Para os trabalhadores, o seguro-desemprego é um apoio essencial, garantindo estabilidade financeira em um momento de incerteza. O desafio, daqui para frente, é continuar estimulando a criação de empregos e melhorar a qualidade das vagas oferecidas, de forma a reduzir a dependência desse benefício a longo prazo.
Imagem: gustavomellossa/shutterstock.com