O governo federal apresentou um pacote de medidas fiscais que promete causar grande impacto na vida de milhões de brasileiros. Entre as propostas estão mudanças no reajuste do salário mínimo, alterações no Benefício de Prestação Continuada (BPC), restrições ao abono salarial e uma reforma na previdência dos militares.
Ao mesmo tempo, o governo propõe a ampliação da isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil, buscando compensar parte da população. Essas iniciativas surgem em um momento de forte pressão para o controle dos gastos públicos, visando equilibrar o orçamento e garantir a viabilidade do arcabouço fiscal aprovado em 2023. Portanto, siga a leitura e entenda mais desses cortes.
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Mudanças no reajuste do salário mínimo

O salário mínimo, atualmente referência para mais de 59 milhões de brasileiros, é uma das prioridades do governo. A nova proposta busca limitar os reajustes reais, permitindo aumentos anuais de até 2,5% acima da inflação, mesmo que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) seja superior.
Impacto na renda das famílias
Com essa mudança, trabalhadores e aposentados podem perder cerca de R$ 6 por mês em 2025. Apesar de parecer um valor pequeno, o impacto acumulado gera uma economia de R$ 2 bilhões para o governo.
Especialistas apontam que limitar os reajustes pode enfraquecer o poder de compra da população de baixa renda, principalmente em períodos de inflação elevada.
Ampliação da isenção no Imposto de Renda
Uma das promessas de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi aumentar a faixa de isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil. Atualmente, a isenção é de até R$ 2.824, e a mudança beneficiaria cerca de 30 milhões de brasileiros.
Custos e contrapartidas
Embora a ampliação da isenção alivie a carga tributária para a classe média, o custo estimado da medida varia entre R$ 35 bilhões e R$ 50 bilhões anuais. Para compensar, o governo propõe:
- Taxação de rendas altas: alíquota de 10% para quem ganha acima de R$ 50 mil por mês.
- Revisão das deduções: limitações para despesas médicas em faixas de renda superiores a R$ 20 mil mensais.
A redistribuição da carga tributária visa promover maior justiça fiscal, mas enfrenta resistência de setores econômicos mais abastados.
Alterações no Benefício de Prestação Continuada (BPC)
O BPC, que garante um salário mínimo para idosos de baixa renda e pessoas com deficiência, é outro alvo de ajustes. As mudanças propostas incluem:
- Inclusão de renda familiar: rendimentos de cônjuges e parentes próximos poderão ser contabilizados.
- Cadastro mais rígido: atualização obrigatória a cada 24 meses.
- Exigência de comprovação médica: necessidade de apresentar CID (Código Internacional de Doenças) para a concessão do benefício.
Risco de exclusão social
Especialistas alertam que essas medidas podem dificultar o acesso ao BPC, excluindo beneficiários vulneráveis. Apesar disso, o governo defende que os ajustes visam garantir maior eficiência e evitar fraudes no programa.
Restrição no abono salarial
Atualmente, o abono salarial é pago a trabalhadores que recebem até dois salários mínimos mensais. O governo propõe reduzir esse limite para R$ 2.640, com previsão de ajustá-lo para 1,5 salário mínimo até 2035.
Impacto no orçamento
A medida, que exige aprovação de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC), promete reduzir significativamente as despesas públicas. Contudo, sindicatos e movimentos sociais criticam a proposta, destacando seu efeito sobre a renda de trabalhadores formais de baixa renda.
Reforma na previdência dos militares
Outro ponto polêmico do pacote é a reforma da previdência militar. A proposta inclui:
- Extinção da “morte ficta”: elimina pensão para familiares de militares expulsos.
- Idade mínima para a reserva: estabelece critérios mais rígidos.
- Contribuição obrigatória: elevação para 3,5% no fundo de saúde até 2026.
Desafios financeiros
O déficit da previdência militar é um dos maiores gargalos fiscais. Estima-se que o custo atinja R$ 33,28 bilhões em 2025, sendo as pensões responsáveis por R$ 18,05 bilhões. A reforma busca equilibrar essas contas, mas enfrenta resistência dentro das Forças Armadas.
Controle mais rigoroso no Bolsa Família
O governo anunciou medidas para fortalecer a fiscalização do Bolsa Família, incluindo:
- Restrição para famílias unipessoais: municípios com alta proporção de famílias desse tipo passarão por auditorias.
- Cadastro atualizado: atualização obrigatória dos dados dos beneficiários.
- Implantação de biometria: medida para evitar fraudes.
- Cruzamento de informações: análise de dados com concessionárias de serviços públicos.
Essas ações visam garantir que o programa alcance apenas as famílias mais necessitadas, evitando irregularidades.
Impacto econômico e desafios políticos
As propostas são parte de um esforço maior para reduzir o déficit fiscal, estimado em R$ 72 bilhões nos próximos dois anos e R$ 327 bilhões até 2030.
Reação no Congresso
As medidas enfrentam resistência em diferentes frentes:
- Sindicatos e movimentos sociais: contrários às mudanças no salário mínimo e no abono salarial.
- Setores militares: críticos à reforma da previdência.
- Oposição política: que pode dificultar a aprovação de propostas impopulares.
Além disso, o mercado financeiro acompanha com cautela. O dólar já ultrapassou R$ 5,91, enquanto a instabilidade econômica preocupa investidores.
Conclusão do pacote de cortes
O pacote de cortes apresentado pelo governo busca atender às exigências do arcabouço fiscal e garantir a sustentabilidade das contas públicas. Contudo, as propostas trazem impactos significativos para trabalhadores, aposentados e beneficiários de programas sociais.
A aprovação no Congresso dependerá de uma complexa articulação política, com debates que prometem ser intensos nos próximos meses. Resta saber como o governo equilibrará a necessidade de ajustes fiscais com a proteção das camadas mais vulneráveis da população.
Imagem: Gustavo Mello / shutterstock.com