O debate sobre a implementação do Drex no Brasil ganhou novos contornos após o deputado federal Allan Garcês (PP-PA) protocolar um pedido na Câmara dos Deputados, buscando explicações do governo Lula sobre o funcionamento da moeda digital. O pedido surgiu em meio a uma crescente onda de desinformação e desconfiança sobre os impactos da criação da moeda digital, com o deputado destacando que a sua implantação poderia permitir um controle governamental excessivo sobre a vida dos cidadãos.
De acordo com Garcês, a ideia de que o Drex poderia ser usado para controlar o comportamento da população brasileira, como se observa em outros países, como a China, gerou preocupações significativas. O pedido do deputado busca esclarecer como o Banco Central planeja implantar essa moeda digital no Brasil, sem comprometer a privacidade dos cidadãos ou dar margem para abusos.
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O que é o Drex?
O conceito de moeda digital
Drex é a versão digital do real, desenvolvida pelo Banco Central do Brasil, com o objetivo de ser uma moeda fiduciária digital (CBDC – Central Bank Digital Currency). Essa nova forma de moeda busca modernizar o sistema financeiro nacional e promover maior segurança, eficiência e transparência nas transações financeiras, principalmente no ambiente digital.
A proposta do Drex é permitir que o Banco Central regule e monitore as transações financeiras realizadas de forma digital, mantendo o lastro no real e garantindo sua estabilidade. Essa inovação visa proporcionar uma alternativa segura aos métodos tradicionais de pagamento e fortalecer o sistema financeiro nacional.
Como o Drex funcionará?
O Drex funcionará como uma moeda digital emitida pelo Banco Central para transações no atacado (entre instituições financeiras autorizadas) e no varejo (entre instituições e clientes). Embora seja uma alternativa digital ao dinheiro tradicional, o governo garante que o Drex não substituirá o dinheiro físico, mas sim coexistirá com ele, oferecendo uma opção adicional para as transações digitais.
O Banco Central já deixou claro que a criação do Drex se alinha com os princípios da Lei do Sigilo Bancário e da Lei Geral de Proteção a Dados Pessoais (LGPD), garantindo a privacidade dos usuários e a proteção dos dados financeiros. No entanto, o projeto ainda gerou incertezas sobre o seu impacto na vida dos cidadãos e no controle das transações financeiras.
O pedido de Allan Garcês
A preocupação com o controle governamental
Allan Garcês expressou preocupações sobre o possível uso do Drex para controle governamental excessivo, comparando-o ao sistema de vigilância da China. Segundo o deputado, a introdução de uma moeda digital poderia possibilitar o governo a ter acesso a informações detalhadas sobre as transações de cada cidadão, incluindo valores, horários e locais das transações.
Em seu pedido, Garcês questionou o governo sobre a base legal para a implantação do Drex e se haverá autorização legislativa para que o Banco Central implemente a moeda digital. Ele também levantou questões sobre como o Drex coexistirá com o PIX e o dinheiro em espécie, além de se o Banco Central terá controle exclusivo sobre as transações.
A preocupação com a privacidade
Outro ponto levantado pelo deputado é o impacto do Drex na privacidade dos cidadãos. Ele questiona se o governo e órgãos como a Receita Federal ou o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) terão acesso às transações realizadas por usuários da moeda digital e se essas informações poderiam ser usadas para fins de tributação ou outras medidas de fiscalização.
Garcês também pediu explicações sobre as medidas de segurança adotadas pelo Banco Central para proteger os dados financeiros dos usuários e garantir a integridade das transações realizadas com o Drex. O deputado expressou preocupações sobre a possibilidade de ciberataques ou vazamentos de dados, que poderiam comprometer a segurança dos usuários da moeda digital.
O posicionamento do governo
Esclarecimentos sobre o Drex

O governo federal, por meio da Secretaria de Comunicação Social, procurou esclarecer alguns pontos levantados pelos críticos do Drex. Em uma nota oficial, o governo destacou que é falso afirmar que o Drex substituirá o dinheiro em espécie. A versão inicial da moeda digital será uma alternativa para transações digitais, com foco em pagamentos online, sem afetar a demanda por cédulas.
O Banco Central também afirmou que o Drex será regulamentado dentro dos princípios previstos na legislação brasileira, incluindo a Lei do Sigilo Bancário e a LGPD. Além disso, o governo garantiu que o Drex não será utilizado como uma ferramenta para monitoramento das transações financeiras das pessoas, como tem sido alegado por alguns críticos.
A integração com o sistema financeiro
A integração do Drex ao sistema financeiro brasileiro será feita de forma gradual, com o objetivo de não prejudicar os usuários mais vulneráveis, como as pessoas que ainda dependem do uso do dinheiro físico para suas transações. O governo reafirmou que o Drex será apenas uma alternativa digital ao dinheiro, sem que isso signifique o fim do uso de cédulas e moedas.
Além disso, o Banco Central ressaltou que o Drex não será utilizado para monitoramento das transações financeiras, pois todas as operações seguirão as regras de sigilo bancário e proteção de dados estabelecidas pela legislação nacional.
A bancada anti-Drex
Críticas e posicionamentos
A proposta do Drex gerou oposição entre diversos membros da Câmara dos Deputados, que formaram uma “bancada anti-Drex”. Entre os críticos está a deputada Julia Zanatta (PL-SC), que tem defendido que o Drex pode restringir a liberdade das pessoas e impor um controle social no Brasil. Outro nome conhecido dessa bancada é o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que também se posiciona contra a criação de uma moeda digital emitida pelo Banco Central.
Esses deputados acreditam que a introdução do Drex pode comprometer a liberdade financeira dos brasileiros e abrir espaço para o governo controlar as transações de seus cidadãos. Apesar das explicações do governo, a oposição continua a levantar questionamentos sobre os riscos associados à implementação do Drex.
O cenário internacional
A posição dos Estados Unidos e da China
O debate sobre as moedas digitais emitidas pelos bancos centrais (CBDCs) não é exclusivo do Brasil. Em janeiro de 2025, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou uma ordem executiva proibindo a criação de uma CBDC no país. A ordem do governo americano argumenta que a implementação de uma moeda digital poderia ameaçar a estabilidade do sistema financeiro, a privacidade individual e a soberania dos EUA.
Enquanto isso, a China continua a avançar com a implementação de seu yuan digital, uma das CBDCs mais avançadas do mundo. A Europa também está explorando a implementação de um euro digital, enquanto outras nações estudam suas próprias moedas digitais, como o mBridge, um projeto internacional de moeda digital desenvolvido entre bancos centrais da China, Hong Kong, Tailândia e Emirados Árabes Unidos.
Conclusão
A criação do Drex levanta questões importantes sobre a privacidade e o controle governamental sobre as transações financeiras dos cidadãos. O pedido do deputado Allan Garcês e as críticas de outros membros da Câmara dos Deputados evidenciam as preocupações com o impacto da moeda digital na liberdade financeira dos brasileiros.
Embora o governo tenha se esforçado para esclarecer as dúvidas sobre a implantação do Drex, a falta de transparência e a desconfiança em relação às intenções do governo ainda geram um debate acalorado sobre o futuro da moeda digital no Brasil.