Tradicional na mesa dos brasileiros, o café não tem sido um alívio no orçamento das famílias nos últimos meses. Em 2024, o café moído registrou uma impressionante alta de 77,78% nos últimos 12 meses, segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo IBGE. Essa disparada no preço tem gerado surpresas para os consumidores, que, além de sentirem os impactos no caixa, agora convivem com medidas de segurança inusitadas nos supermercados, como lacres antifurto para embalagens do produto.
A alta no preço do café não é apenas um reflexo de inflação. Ao contrário, é um fenômeno mais complexo, influenciado por uma combinação de fatores climáticos, aumento da demanda global e variações cambiais. Este artigo explora os motivos dessa elevação e os reflexos no mercado e na vida do consumidor brasileiro.
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A alta inédita no preço do café

O preço do café, que já vinha sendo monitorado de perto pelos brasileiros, experimentou um aumento considerável. No último levantamento, a variação mensal foi de 8,14% entre fevereiro e março de 2024. Isso reflete uma tendência de aumento constante, com a categoria atingindo níveis que chegam a R$ 46,87 por quilo, conforme os dados da Neogrid. Se compararmos com o valor de setembro de 2023, o preço do café subiu mais de R$ 8.
Além do impacto imediato no bolso do consumidor, o aumento substancial no valor do café está resultando em novos hábitos no mercado. Em São Paulo, por exemplo, prateleiras de cafés já aparecem com medidas de segurança, como lacres antifurto, para prevenir furtos devido ao alto preço.
Fatores climáticos e aumento da demanda
De acordo com Luís Felipe Cavalcante, economista e professor da Estácio, os fatores climáticos desempenham um papel fundamental na elevação dos preços. A combinação de seca severa seguida de chuvas intensas afetou negativamente a produção de café no Brasil e no Vietnã, ambos grandes produtores mundiais. Essas condições climáticas adversas reduziram a oferta de grãos e, consequentemente, aumentaram o preço.
Além disso, a crescente demanda global, particularmente na China, também contribuiu para essa pressão sobre os preços. Cavalcante observa que, com o aumento do consumo de café na China e a desvalorização do real, as exportações brasileiras de café cresceram 34% em 2024, ampliando a concorrência pelo produto no mercado internacional.
Custos de produção elevados: O impacto no preço
Outro fator que pressiona o aumento do preço do café são os custos elevados de produção. Robson Munhoz, diretor de Relações Corporativas da Neogrid, explica que o alto custo dos insumos, como fertilizantes e energia, tem sido um obstáculo para os produtores. Além disso, o aumento nos custos com mão de obra tem gerado reflexos diretos no valor final do produto.
O crescimento do custo de produção não é um fenômeno isolado, mas parte de um cenário mais amplo de inflação, em que diversos setores da economia estão enfrentando altos preços de insumos. No caso do café, isso se reflete diretamente no aumento do preço pago pelos consumidores nas gôndolas dos supermercados.
Reação do mercado: O café agora é alvo de medidas de segurança
O impacto da alta nos preços não se limita apenas ao orçamento familiar. Supermercados em São Paulo já adotaram medidas de segurança especiais para proteger o produto. Algumas prateleiras de café, principalmente as de marcas populares, estão sendo equipadas com lacres antifurto, uma medida que tem gerado reações curiosas entre os consumidores. Em vídeos postados nas redes sociais, consumidores expressaram surpresa com a presença dos lacres, comentando que o café está tão caro que agora precisa de medidas de segurança.
Esse fenômeno de adotar medidas de segurança pode ser visto como um reflexo de um mercado que lida com preços cada vez mais altos e com a necessidade de proteger um bem que se tornou um luxo para muitas famílias brasileiras.
Como a desvalorização do real afeta o preço do café?
Além dos fatores locais e climáticos, a desvalorização do real tem contribuído para o aumento do preço do café. Como o Brasil é um dos maiores produtores de café do mundo, a cotação internacional da moeda brasileira tem um impacto direto sobre os preços no mercado interno. Com o real mais fraco, o preço do café no mercado internacional se torna mais competitivo, o que incentiva as exportações brasileiras, mas também limita a oferta disponível no mercado doméstico.
Como consequência, o aumento das exportações brasileiras de café para países como a China tem tornado o produto menos disponível para o consumidor brasileiro, elevando os preços internamente.
O impacto do aumento do preço do café na economia brasileira
O aumento no preço do café é apenas um reflexo de um cenário econômico mais amplo que está afetando a vida dos brasileiros. A alta dos preços tem impactado diretamente o poder de compra da população, especialmente das classes mais baixas, que, além de sentirem o impacto da inflação, também enfrentam desafios relacionados ao desemprego e à instabilidade econômica.
Essa alta no preço do café também afeta outros setores da economia, já que o café é um produto amplamente consumido em diversos tipos de estabelecimentos, como cafeterias, restaurantes e padarias. O aumento nos custos desses produtos, portanto, se espalha por diversas cadeias de valor, afetando o preço final de produtos e serviços.
Conclusão: O futuro do café no Brasil

O café, um ícone nacional, está longe de ser apenas uma bebida; ele é parte da cultura e da rotina de muitos brasileiros. Contudo, os recentes aumentos nos preços refletem um cenário global de desafios climáticos, aumento da demanda e custos de produção elevados. Para o consumidor brasileiro, isso significa ajustes nos gastos e até mudanças nos hábitos de consumo.
Com os preços em alta, o mercado também busca formas de lidar com essa situação, como a adoção de medidas de segurança nos supermercados. A pergunta que fica é: como as famílias brasileiras continuarão a lidar com esse aumento constante? O futuro do café no Brasil depende de como esses fatores globais e locais irão se equilibrar.
Com informações de: Extra