A proposta de salário mínimo para o ano de 2026 já começa a tomar forma com a apresentação da nova Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). O documento, que orienta as finanças do governo federal, traz uma estimativa de R$ 1.627 como valor oficial, mas análises independentes sugerem que o piso nacional pode superar essa cifra. Segundo o economista Felipe Salto, o valor pode alcançar R$ 1.636,40, dependendo do comportamento da inflação e do crescimento da economia.
Esse reajuste não apenas afeta diretamente o bolso de milhões de trabalhadores brasileiros, mas também tem reflexos significativos sobre benefícios como aposentadorias, pensões e o Benefício de Prestação Continuada (BPC).
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Estimativas para 2026: entre a previsão oficial e os cálculos de mercado

A projeção inicial divulgada pelo governo Lula, conforme informações antecipadas pelo jornal O Globo, aponta que o salário mínimo será de R$ 1.627 em 2026. No entanto, cálculos mais recentes de Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos, indicam que o valor pode ser um pouco maior: R$ 1.636,40.
Esse aumento representa um acréscimo de R$ 118,40 em relação ao piso atual, fixado em R$ 1.518. A estimativa considera dois fatores fundamentais: a inflação acumulada até novembro de 2024, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que deve ficar em torno de 5,3%, e o crescimento real de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) registrado dois anos antes, ou seja, em 2024.
Regras para o cálculo: inflação mais crescimento econômico
Desde a aprovação do novo pacote fiscal no final de 2025, a fórmula de reajuste do salário mínimo passou a ser mais transparente. Segundo a nova legislação, o piso salarial deve ser corrigido anualmente com base no INPC dos 12 meses encerrados em novembro do ano anterior, somado à variação real do PIB de dois anos antes, com teto de 2,5%.
Assim, mesmo que o crescimento econômico ultrapasse esse percentual, o ganho real do salário mínimo será limitado. Por exemplo, se o PIB crescer 3%, o aumento efetivo para o cálculo será de 2,5%, mantendo um equilíbrio entre valorização do salário e controle das contas públicas.
Impactos nas contas públicas e benefícios sociais
A política de reajuste tem efeito cascata nas despesas do governo. De acordo com estimativas da Warren, o novo modelo poderá gerar uma economia de R$ 5,5 bilhões em relação ao sistema de reajuste anterior. Essa economia decorre da limitação do aumento real a 2,5%, mesmo em cenários de forte crescimento econômico.
Além disso, o novo piso serve de referência para diversos benefícios sociais e previdenciários. Um aumento no salário mínimo impacta diretamente os valores pagos pelo INSS, como aposentadorias e pensões, e também o Benefício de Prestação Continuada (BPC), pago a idosos e pessoas com deficiência em situação de vulnerabilidade.
Histórico do salário mínimo: evolução desde 1994
A trajetória do salário mínimo no Brasil mostra uma progressão significativa ao longo das últimas décadas. Em 1994, o valor era de apenas R$ 70. A partir de então, reajustes anuais elevaram esse número de maneira contínua. Veja alguns marcos recentes:
- 2025: R$ 1.518
- 2024: R$ 1.412
- 2023: R$ 1.302 (em janeiro) e R$ 1.320 (a partir de maio)
- 2022: R$ 1.212
- 2010: R$ 510
- 2000: R$ 151
- 1994: R$ 70
Esse crescimento revela tanto os esforços de valorização do piso nacional quanto os efeitos da inflação acumulada sobre o poder de compra da população.
Origem e função do salário mínimo no Brasil
Criado em 1936 durante o governo de Getúlio Vargas, o salário mínimo tem como principal objetivo garantir uma remuneração básica a todos os trabalhadores do país. Ao longo dos anos, sua função foi consolidada como uma política pública fundamental para assegurar dignidade e reduzir desigualdades.
Embora tenha passado por diversas revisões legais, sua essência permanece: garantir que nenhum trabalhador receba menos do que o valor estipulado pelo governo federal por sua jornada de trabalho.
Cenários possíveis para 2026
Com a aplicação da atual metodologia, o valor final do salário mínimo dependerá de dois fatores variáveis: a inflação acumulada até novembro de 2024 e o desempenho do PIB de 2024. Caso esses indicadores se mantenham dentro das previsões, é provável que o valor gire em torno de R$ 1.636,40.
Contudo, se a inflação surpreender para cima ou o PIB tiver um crescimento mais modesto, o valor poderá ficar mais próximo da projeção oficial de R$ 1.627.
Considerações finais

A definição do salário mínimo para 2026 vai além de um simples número. Trata-se de uma decisão que impacta milhões de brasileiros e define os rumos de políticas públicas sociais e econômicas.
Com uma fórmula baseada em critérios técnicos e limitações claras, o governo busca conciliar valorização do trabalho com responsabilidade fiscal. Resta agora aguardar a consolidação dos dados econômicos para definir o valor final.