O governo federal anunciou mudanças significativas nas regras para concessão de crédito à população, com o objetivo de conter o superendividamento, estimular o consumo responsável e tornar o acesso a empréstimos mais justo e transparente. As novas normas afetam diretamente modalidades populares como o crédito consignado para aposentados, pensionistas e beneficiários de programas sociais como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC).
As alterações abrangem limites de juros, prazos de pagamento, percentual de comprometimento da renda e exigências para os bancos na hora da concessão dos créditos. A medida surge em meio a um cenário de aumento da inadimplência no país, com quase 70 milhões de brasileiros com o nome negativado.
Neste artigo, você vai entender em detalhes o que muda nas regras de empréstimo, quem será afetado, quais cuidados tomar antes de contratar crédito e como se adaptar a esse novo cenário.
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Principais mudanças nas regras de empréstimo
As novas regras anunciadas visam proteger os consumidores mais vulneráveis, como os beneficiários de programas sociais e aposentados do INSS. Entre os principais pontos da medida, destacam-se:
- Redução no limite dos juros do crédito consignado
- Redução do comprometimento máximo da renda com parcelas
- Regras mais rígidas para empréstimos destinados a beneficiários do Bolsa Família e BPC
- Exigência de maior transparência dos bancos e instituições financeiras
- Novas obrigações de comunicação e orientação aos clientes
Essas alterações foram estabelecidas em parceria com o Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS), Ministério da Fazenda e Banco Central, com foco no equilíbrio financeiro das famílias e redução do risco de inadimplência.
Juros menores no crédito consignado
Uma das mudanças mais relevantes foi a redução da taxa máxima de juros permitida para o crédito consignado, especialmente para aposentados e pensionistas do INSS. Antes da mudança, o teto dos juros era de 1,91% ao mês. Agora, o limite passa para 1,68% ao mês para empréstimos e 2,65% ao mês para o cartão consignado.
Essa medida visa tornar os empréstimos menos onerosos e evitar o acúmulo de dívidas de longo prazo, especialmente para os idosos, que muitas vezes comprometem boa parte da aposentadoria com o pagamento de parcelas.
Redução no limite de comprometimento da renda
Outro ponto importante é a diminuição do limite máximo que pode ser comprometido da renda mensal do beneficiário para pagamento de parcelas do empréstimo. O novo percentual definido é de até 35% da renda líquida, sendo:
- 30% para empréstimos consignados tradicionais
- 5% exclusivos para uso do cartão consignado
Anteriormente, esse limite era de até 45%, o que ampliava o risco de superendividamento entre os beneficiários. A nova regra visa aumentar a proteção financeira e evitar que as parcelas comprometam o orçamento familiar.
Regras específicas para beneficiários de programas sociais
Beneficiários do Bolsa Família e do BPC também estão sujeitos a novas exigências. Embora essas categorias possam acessar o crédito consignado, a liberação do empréstimo fica condicionada a uma análise mais criteriosa, especialmente no que diz respeito à preservação da renda mínima para a subsistência.
O objetivo é impedir que famílias em situação de vulnerabilidade social acabem comprometendo recursos essenciais à alimentação, saúde e educação com pagamento de dívidas bancárias.
Além disso, os bancos devem fornecer informações claras e detalhadas sobre as condições do contrato, incluindo:
- Valor total financiado
- Número de parcelas
- Valor de cada parcela
- Taxa de juros aplicada
- Custo efetivo total (CET)
Exigência de transparência e orientação ao consumidor
As instituições financeiras agora têm a obrigação de fornecer orientação financeira aos clientes, especialmente os mais vulneráveis. Isso inclui explicações sobre os riscos do crédito, dicas de planejamento financeiro e opções de negociação em caso de dificuldades no pagamento.
Essa medida tem como base o Código de Defesa do Consumidor e visa garantir que o cidadão tome decisões mais conscientes, evitando cair em armadilhas como juros abusivos ou refinanciamentos desnecessários.
Impacto para aposentados e pensionistas do INSS
Aposentados e pensionistas continuam sendo o público com maior volume de contratos de crédito consignado no país. Com as novas regras, eles deverão observar com mais atenção as condições oferecidas pelas instituições.
Entre os principais impactos estão:
- Redução nas parcelas, devido à diminuição dos juros
- Menor limite disponível para novos empréstimos
- Exigência de consulta prévia e assinatura digital ou presencial
- Proibição de oferta agressiva de crédito por telefone ou mensagens
Essa última medida é particularmente importante, pois muitos idosos vinham sendo alvo de assédio comercial por parte de bancos e correspondentes, sem sequer terem solicitado crédito.
Como as mudanças afetam o mercado financeiro

Do ponto de vista dos bancos e financeiras, as novas exigências poderão levar a uma readequação nas políticas de crédito. Isso pode significar:
- Redução da margem de lucro das operações
- Maior exigência na análise de crédito
- Reavaliação de estratégias comerciais para públicos de baixa renda
Por outro lado, a expectativa é de que o novo modelo, ao ser mais sustentável, reduza a inadimplência e fortaleça o relacionamento de longo prazo com os clientes.
Cuidados antes de contratar um empréstimo
Com ou sem as novas regras, é essencial que qualquer consumidor tome alguns cuidados antes de fechar um contrato de empréstimo. Veja algumas dicas importantes:
- Avalie a real necessidade – Evite contrair dívidas para pagar despesas supérfluas ou cobrir outras dívidas.
- Compare taxas e condições – Pesquise em diferentes bancos e use simuladores para entender o custo total do crédito.
- Leia todo o contrato – Verifique cláusulas de juros, prazos, multas por atraso e regras para quitação antecipada.
- Evite refinanciamentos sucessivos – Isso pode transformar uma dívida em algo permanente e impagável.
- Fuja de ofertas por telefone – Nunca aceite crédito sem antes consultar pessoalmente as condições com seu banco.
Planejamento financeiro é essencial
Mais do que nunca, o planejamento financeiro torna-se uma ferramenta indispensável para lidar com as novas regras e evitar problemas no futuro. Organizar o orçamento, conhecer a própria renda e priorizar despesas básicas são ações simples que fazem toda a diferença na vida do consumidor.
É importante também manter um controle sobre as parcelas ativas, evitando comprometer a renda além do permitido e do necessário.
Conclusão
As novas regras para concessão de crédito representam um avanço importante na proteção ao consumidor brasileiro, especialmente os mais vulneráveis. Com limites mais rígidos, exigência de transparência e taxas de juros mais justas, a intenção do governo é criar um ambiente de crédito mais saudável e equilibrado.
Ainda assim, cabe ao cidadão estar atento, buscar informações e tomar decisões financeiras com responsabilidade. Em um cenário de instabilidade econômica e alto endividamento, o crédito pode ser um aliado ou um vilão — e essa escolha depende, em grande parte, da forma como é utilizado.