O consumo excessivo de alimentos ultraprocessados (AUPs) pode ser responsável por uma série de complicações de saúde graves, incluindo doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes e até mesmo câncer. Um estudo recente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), publicado no American Journal of Preventive Medicine, traz à tona dados alarmantes sobre o impacto desses produtos alimentares na saúde pública mundial. O estudo, que analisou dados de mortalidade e pesquisas alimentares de oito países, revelou que as mortes prematuras atribuídas ao consumo de AUPs são crescentes, especialmente em países com dietas altamente baseadas nesses alimentos.
Este alerta reforça a urgência de políticas públicas que desincentivem o consumo desses produtos e incentivem alternativas alimentares mais saudáveis, com ingredientes frescos e minimamente processados. Neste artigo, vamos explorar como os alimentos ultraprocessados afetam a saúde globalmente, os riscos associados a eles e as implicações para políticas de saúde pública.
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O que são alimentos ultraprocessados?

Os alimentos ultraprocessados são produtos alimentares industriais que passam por diversos processos químicos e físicos para serem produzidos. Eles são feitos com ingredientes sintéticos, como corantes, adoçantes artificiais, aromatizantes e emulsificantes, e possuem pouco ou nenhum alimento integral em sua composição. Os exemplos incluem refrigerantes, bolos industrializados, cereais de café da manhã, fast food e até mesmo refeições prontas congeladas.
Esses produtos se destacam por serem convenientes, baratos e de fácil acesso, o que contribui para seu consumo crescente em diversas partes do mundo. No entanto, apesar de sua praticidade, a falta de nutrientes essenciais e a presença de substâncias artificiais tornam esses alimentos prejudiciais à saúde quando consumidos em excesso.
Os efeitos do consumo de AUPs na saúde
A pesquisa coordenada pela Fiocruz indicou que os alimentos ultraprocessados têm uma série de impactos negativos na saúde das pessoas. O alto teor de sódio, gorduras trans e açúcares presentes nesses produtos é um dos principais responsáveis pelo aumento de doenças crônicas.
Além disso, as alterações químicas e físicas provocadas durante o processamento industrial podem tornar esses alimentos ainda mais prejudiciais ao organismo.
Risco de doenças e mortes prematuras
O estudo revelou que a cada aumento de 10% no consumo de alimentos ultraprocessados, o risco de morte prematura por todas as causas aumenta em 3%. Isso significa que, em países onde o consumo de AUPs é mais elevado, o impacto na saúde pública é ainda mais grave.
Nos Estados Unidos, por exemplo, em 2018, aproximadamente 124.000 mortes prematuras foram atribuídas ao consumo excessivo de AUPs. Embora esse número seja alarmante, ele reflete a realidade de países com alto poder aquisitivo, onde a dieta baseada em alimentos ultraprocessados já é uma prática comum. No entanto, o estudo também aponta para um crescimento preocupante desse padrão alimentar em países de renda média e baixa.
Como o consumo de AUPs contribui para doenças crônicas
Além das mortes prematuras, o consumo excessivo de AUPs está associado ao desenvolvimento de uma série de doenças crônicas. As principais incluem:
- Doenças cardiovasculares: A ingestão de grandes quantidades de gorduras saturadas e trans, bem como o excesso de sal, são fatores de risco conhecidos para doenças cardíacas e derrames;
- Obesidade: Os alimentos ultraprocessados são ricos em calorias e pobres em nutrientes, contribuindo para o aumento da obesidade, que por sua vez está associada a várias doenças, incluindo diabetes tipo 2;
- Câncer: Alguns estudos sugerem que a presença de substâncias químicas e aditivos artificiais nos AUPs pode estar relacionada ao desenvolvimento de certos tipos de câncer, como o câncer de cólon;
- Distúrbios psicológicos: A relação entre dieta e saúde mental também é um ponto importante. O consumo excessivo de alimentos ricos em açúcar e gordura pode agravar condições como a depressão e a ansiedade.
O impacto global do consumo de AUPs
O estudo da Fiocruz revelou uma preocupação crescente em países com economias emergentes. Em nações como o Brasil, México e Colômbia, o consumo de AUPs está em ascensão, o que indica que as mortes prematuras devido a esses alimentos podem se tornar um problema de saúde pública ainda maior nos próximos anos.
A análise dos dados de consumo alimentar e mortalidade de oito países revelou que, enquanto os países ricos enfrentam uma carga de mortalidade maior devido aos AUPs, os países de renda média e baixa estão experimentando um aumento acelerado nesse tipo de consumo. Isso exige uma resposta urgente em termos de políticas de saúde pública e educação alimentar, a fim de evitar um cenário ainda mais grave no futuro.
O que pode ser feito? A necessidade de políticas públicas
A redução do consumo de alimentos ultraprocessados deve ser uma prioridade global, especialmente em países em desenvolvimento, onde o acesso a esses produtos é cada vez mais comum. As políticas públicas devem focar em duas frentes principais:
- Educação alimentar: É essencial informar a população sobre os riscos do consumo excessivo de AUPs e incentivar a adoção de uma dieta mais saudável, baseada em alimentos frescos e naturais;
- Regulação do mercado de alimentos: Os governos devem implementar regulamentações mais rigorosas sobre a publicidade e venda de produtos ultraprocessados, especialmente direcionadas ao público infantil.
Conclusão

A pesquisa conduzida pela Fiocruz revela um panorama alarmante sobre o impacto dos alimentos ultraprocessados na saúde global. O aumento das mortes prematuras, as doenças crônicas associadas e o crescente consumo desses produtos em países em desenvolvimento exigem uma resposta urgente. Enfrentar esse problema é essencial para melhorar a saúde pública e reduzir as mortes evitáveis.
A mudança de hábitos alimentares e a implementação de políticas públicas eficazes podem salvar vidas e garantir um futuro mais saudável para as próximas gerações.